HORA CERTA EM MOSQUEIRO

sábado, 29 de maio de 2010

A ILHA DO MOSQUEIRO: NA ROTA DA HISTÓRIA

CHAPÉU VIRADO

Século passado, primeiras décadas. Momentos que lá se vão carregados pela voragem do tempo. Cenas que não presenciamos e que buscamos reconstruir pelo poder da imaginação. Parece-nos ainda ver os visitantes em seus melhores trajes desembarcarem no trapiche da Vila e, ano após ano, seguirem alegremente em caleches e tilburis (carruagens de tração animal), no bondinho puxado a burro, no trenzinho conduzido por uma locomotiva a vapor apelidada de Pata Choca e nos ônibus de carroceria de madeira. Seu destino: o Chapéu Virado, lugar preferido pela elite de Belém por seu intenso bucolismo e uma paisagem de beleza paradisíaca.



Chapéu Virado é nome antigo em registros cartográficos (Ponta-do-Chapeo-Virado, atualmente Ponta do Farol), de origem desconhecida, talvez uma referência à forma da enseada (chapéu beirado), talvez lembrança da velha clareira ali existente, hoje praça, ontem “o lugar onde o chapéu virava” arrancado da cabeça dos caboclos pelo vento forte que ali chegava canalizado por diversos caminhos.

No final do séc. XIX e início do XX, entre os anos de 1.880 e 1.912, no apogeu da borracha, a ilha foi descoberta pelos estrangeiros que trabalhavam em Belém, nas empresas como a Pará Eletric, Amazon River, Port of Pará e outras. Ingleses, franceses, alemães, americanos, portugueses, libaneses e hebraicos estiveram na costa oeste da ilha e muitos construíram, inclusive no Chapéu Virado, vários casarões, cuja arquitetura é um misto de estilos europeus com a realidade climática local, em traços que vão desde o barroco ao neoclássico. Posteriormente, a elite da sociedade de Belém aderiu a esse movimento na busca do merecido repouso de fim-de-semana.

E eles vinham, gente ruidosa, elegante, feliz, antegozando o fim-de-semana no convívio da família e dos amigos, sentindo a magia da Ilha na fartura do verde e das águas, no beijo ardente do sol ou no aconchego do luar. Alguns se dirigiam a seus chalés, vivendas e retiros; outros buscavam hospedagem no Hotel Chapéu Virado, o famoso Hotel do Russo, prédio que ainda existe, porém como um condomínio de apartamentos.




Família reunida em frente ao Chalé Cardoso, no Chapéu Virado antigo (Fonte: Blog H. Baleixe).



Fachada do antigo Balneário Hotel Chapéu Virado ainda em madeira (Fonte: Blog Haroldo Baleixe).

A princípio, humilde pousada em madeira e casa de pasto sob a administração do francês Monsieur Pinet, o Hotel Chapéu Virado passaria depois a ser conduzido pela firma Ferreira Gomes Cia. e pelo especialista em hotelaria Sr. Manuel Tuñas. Em 1.936, foi adquirido pelo casal português Manoel Maria Fernandes Tavares e Dona Glória Marques Tavares. O Sr. Tavares construiu um anexo em alvenaria ao antigo prédio e, com seu retorno a Portugal em 1.939, a gerência do hotel ficou nas mãos de sua filha Dona Carolina e de seu genro, o português Antônio Joaquim Ferreira, o Russo, apelido oriundo da cor de seus cabelos. Foi, então, que um incêndio destruiu a primitiva construção em madeira e os novos proprietários receberam do prefeito de Belém Abelardo Conduru e, depois, do governador Magalhães Barata, em forma de ajuda, o pagamento de três parcelas de vinte contos de réis, como financiamento para a reconstrução do hotel.

Entretanto, esse prédio não é o único marco histórico do local. Bem no meio da praça está a Capelinha do Sagrado Coração de Jesus, edificada pelo Sr. Guilherme Augusto de Miranda Filho, como pagamento de promessa por ter recuperado a saúde na ilha, e inaugurada em 17 de dezembro de 1.909 pelo arcebispo efetivo de Belém Dom Santino Coutinho. É dessa Capela que, no segundo domingo de dezembro, sai o Círio de Nossa Senhora do Ó, padroeira do povo mosqueirense, com destino à Igreja Matriz.



O Russo e família em frente ao Hotel Chapéu Virado (Fonte: Blog HB, foto: Hermínio Pessoa).



Capela do Sagrado Coração de Jesus e, ao fundo o Hotel Chapéu Virado (Meira Filho, 1978).



Banhistas na praia do Chapéu Virado. Vê-se, ao fundo, a curva do Porto Arthur (Fonte: Blog HB).



Poeta Mário de Andrade (1927), em traje de banho masculino, no Chapéu Virado (Fonte: Blog HB).

Dois outros prédios destacavam-se nos limites da Praça do Chapéu Virado com a Avenida Beira-Mar, ambos de frente para a praia. Um deles ainda existe, embora parte de seu terreno tenha sido negociado e abrigue duas farmácias: trata-se da Vivenda Porto Franco, em estilo neoclássico, antiga residência da família do Sr. José Franco. O outro era o Chalé do Coronel Lourenço Lucidoro Ferreira da Mota (Dr. Loló), Presidente da Executiva do Partido Republicano do Mosqueiro; depois foi transformado em casa de hóspedes, passou a ser propriedade do Dr. Cypriano Santos e, finalmente, demolido para a construção do Edifício Lilian-Lúcia.



Vivenda Porto Franco (Foto: Regina, 1.978).



Chalé do Dr. Loló em 1.907 (Meira Filho, 1.978).

A pracinha do Chapéu Virado (Praça Abelardo Conduru), na confluência da Avenida16 de Novembro com a Avenida Beira-Mar, ocupa um lugar privilegiado de onde, através do antigo Caramanchão, pode-se divisar a magnífica baía do Marajó e assistir a um belíssimo pôr-do-sol. Um lugar que guarda lembranças de fatos históricos como a luta heróica e sangrenta de nossos avós cabanos em 1.836; a aterrissagem na praia, em 13 de outubro de 1.927, do avião “Breguet 118” vindo de São Luís do Maranhão e pilotado por Paul Vachet; a chegada ao Hotel do Russo, em 14 de junho de 1.959, da expedição que, vinda de Belém, percorreu a pé, na mata, o trajeto da atual estrada; a primeira visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, no dia do Círio do Mosqueiro, em dezembro de 1.965; ou a presença, pela primeira vez na ilha, de um Presidente da República, Ernesto Geisel, que veio inaugurar, no dia 12 de janeiro de 1.976, a Ponte Sebastião Rabelo de Oliveira sobre o Furo das Marinhas.


Desbravadores traçando o percurso da futura estrada Belém-Mosqueiro em junho de 59 (Fonte: A. M. Filho).



Chegada dos expedicionários ao Hotel do Russo, na Praça do Chapéu Virado: o primeiro passo na futura estrada (Fonte: A. M. Filho).



Construção da estrada Belém-Mosqueiro (Fonte: A. M. Filho).



No Furo da Marinhas (1.965), uma placa que entrou para a História (Fonte: A. M. Filho)



Recepção à Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré em 1.965 (Fonte: A. M. Filho).



A Imagem Peregrina é conduzida em andor no Círio do Mosqueiro de 1.965 (Fonte: A. M. Filho)

Os tempos mudaram, no entanto a pracinha do Chapéu Virado continua sendo atraente, embora sem o “glamour” do passado que levou Arthur Pires Teixeira a torná-la famosa em Paris e sem o Hotel do Russo, o Ponto Chique, onde a nata da sociedade de Belém se reunia em festas de caridade, bailes, concursos e jogos.

E a praça recebe os visitantes da ilha com uma linda visão da Copacabana Mosqueirense e despede-se deles com a certeza de que, em breve, estarão ali novamente, vivendo as alegrias de momentos inesquecíveis.



Visão aérea da antiga Ponta-do-Chapeo-Virado, hoje Ponta do Farol (Fonte: A. M. Filho)



Visão panorâmica da antiga praia do Chapéu Virado ( Fonte: Blog Haroldo Baleixe)

POR DO SOL NA PONTA DO FAROL-MOSQUEIRO

AS FOTOS QUE FAZEM DE MOSQUEIRO UM LUGAR TURISTICO










Observação:
As imagens citadas foram captadas através da Internet e tem o objetivo de, e tão somente, mostar o quanto a Ilha do Mosqueiro faz parte do mundo globalizado e de muitos que por ela se encantam.
Desde o ano de 1990 tenho revelado a ilha através da minha câmera. A partir desse ano fui em busca de cada detalhe, procurando transferir informações e imagens pessoais, através de blogs, orkuts, e-mail e outros sites. Essa decisão, apesar de alguns acharem prejudicial para o seu trabalho devido a realização indevida de cópias e mudanças de autoria. Para mim, apesar disso acontecer, como já é possível observar em algumas imagens, acima, não me é prejudicial, pois meu trabalho transita pelo mundo, faz parte do mundo imaginário de alguém, serve para uso em trabalhos de alguns mentirosos, QUE apesar de não serem os verdadeiros autores de muitas dessas imagens, fazem divulgar esses trabalhos, sem identificação dos mesmos, como estou fazendo, mas respeitando os seus direitos. Isso para mostar que, esse mundo merece ser respeitado... Enfim, a internet tornou-se um campo aberto, para quem faz da imagem apenas uma revelação. Isso é o que faço: revelar Mosqueiro. Mostar que tem muito a ser revelado, sem limite!

Mosqueiro@Mosqueiro.com
JCSOliveira







ORLA DA PRAIA DO MURUBIRA-MOSQUEIRO

ORLA DA PRAIA DO CHAPEU VIRADO-MOSQUEIRO